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27 de outubro de 2011

Pergunta Para a Beira do Desfiladeiro


de Max Lucado

"Como passou a noite?" perguntou a enfermeira.

Os olhos cansados do jovem responderam a pergunta antes que seus lábios o fizessem. Ela fora longa e difícil. As vigílias sempre são. Mas ainda mais quando passadas com seu próprio pai.

"Ele não acordou."

O filho sentou-se junto ao leito e pegou na mão ossuda que tantas vezes segurara a sua. Ele tinha medo de largá-la por temer que fazendo isso o homem que amava tanto pudesse passar para o outro lado. Ele a segurou a noite inteira enquanto os dois ficavam à beira do desfiladeiro, cientes de que o passo final estava apenas algumas horas à sua frente.

Com palavras pintadas de preto por causa de sua perplexidade, ele resumiu os temores que o haviam acompanhado na escuridão. "Sei que tem de acontecer", disse o filho, olhando para o rosto acinzentado do pai: "só não sei a razão,"

O desfiladeiro da morte.
É um lugar desolado. O chão seco está gretado e sem vida. Um sol ardente aquece o vento que ruge sinistramente e atormenta sem piedade. As lágrimas queimam e as palavras saem vagarosamente, à medida que os visitantes do desfiladeiro são forçados a olhar para o barranco. O fundo da rachadura é invisível, o outro lado inacessível. Não se pode deixar de imaginar o que está escondido nas trevas. E você não pode senão querer ir embora.

Você já esteve ali? Já foi chamado para ficar junto à linha fina que separa os vivos dos mortos? Já ficou acordado à noite ouvindo o ruído das máquinas bombeando ar para dentro e para fora dos seus pulmões? Já observou a doença corroendo e atrofiando o corpo de um amigo? Já permaneceu no cemitério muito tempo depois que os outros partiram, olhando incrédulo o caixão que contém o corpo que continha a alma de alguém que não pode acreditar que se foi?

Caso positivo, este desfiladeiro não é então desconhecido para você. Já ouviu o assobio solitário dos ventos. Já ouviu as perguntas penosas "Por quê?" "Com que propósito?" ricochetearem sem resposta pelas paredes do desfiladeiro. Você desprendeu e atirou pedras da beirada, ficando à espera do som delas caírem lá embaixo, o qual nunca chega.

O jovem pai esmagou o cigarro no cinzeiro de plástico. Ele estava sozinho na sala de espera do hospital. Quanto tempo vai levar? Tudo aconteceu tão depressa! Primeiro vieram as notícias do hospital, depois a corrida desesperada para a sala de emergência e a seguir a explicação da enfermeira. "Seu filho foi atropelado por um carro. Ele tem alguns ferimentos graves na cabeça. Está na sala de cirurgia. Os médicos estão fazendo todo o possível"

Outro cigarro. "Meu Deus." As palavras do pai eram quase audíveis. "Ele só tem cinco anos."

O fato de ficar à beira do desfiladeiro coloca toda a nossa vida em perspectiva. O que importa e o que não importa é facilmente distinguível. Na beirada do desfiladeiro ninguém se preocupa com salários ou posições. Ninguém pergunta que carro você dirige ou em que bairro você mora. A medida que os humanos que envelhecem ficam junto a esse abismo eterno, todos os jogos e disfarces da vida parecem tristemente tolos.

Tudo aconteceu num instante terrível.

"Onde está a nave?" gritou um engenheiro espacial no Cabo Canaveral.

"Oh, meu Deus!" exclamou um professor que apreciava o espetáculo. "Não permita que aconteça o que eu penso que acabou de acontecer"

A confusão e o horror tomaram conta da nação enquanto nos achávamos à beira do desfiladeiro observando sete de nossos melhores astronautas se desintegrarem diante de nossos olhos quando a nave explodiu numa bola de fogo branca e alaranjada.

Mais uma vez fomos lembrados de que mesmo o melhor da nossa tecnologia continuava sendo tremendamente frágil.

É possível que eu esteja me dirigindo a alguém que se ache na beira do desfiladeiro. Alguém que você amava muito foi chamado para o desconhecido e você está só. Só com seus temores e dúvidas. Se for este o caso, por favor leia o restante do livro cuidadosamente. Observe detalhadamente a cena descrita em João 11.
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